A busca pela felicidade é uma jornada universal que todos nós embarcamos em algum momento de nossas vidas. Mas você já parou para pensar como diferentes culturas abordam esse conceito? Hoje, vamos explorar o fascinante caso da Finlândia, um país conhecido por sua alta qualidade de vida e por estar no topo de país mais feliz do mundo pela sétima vez consecutiva (O relatório mundial é uma medição da felicidade divulgada anualmente pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU desde 2012).
Pois bem, visitei recentemente o país para compreender por que a Finlândia é o país mais feliz do mundo. O que pensam, o que comem, onde vivem e o que fazem essas pessoas felizes? Essas perguntas foram o driver para desvendar esse mistério e entender se como estamos desenvolvendo a felicidade aqui no Brasil nas empresas e universidades realmente vai nos impulsionar para nos tornarmos mais felizes genuinamente.
Durante a palestra que ministrei no maior evento de educação digital do país, “Mindset Global: Despertando para o poder da educação internacional para a construção de um desenvolvimento consciente para a sociedade”, trouxe os principais fatores de destaque e sucesso dos países considerados com melhor educação do mundo e aproveitei para perguntar aos professores, diretores de escolas e universidades: “No Brasil muito tem se falado sobre felicidade nas universidades e empresas. No mundo corporativo temos visto a criação de cargos como Chief Happiness Officers(CHOs) dentre outros. O que vocês pensam sobre isso e como ensinar felicidade pode ser um diferencial para criar cidadãos mais conscientes para o mundo?”.
Não poderia ter feito pergunta melhor, pois a resposta veio da maneira mais simples possível: “Nós não ensinamos felicidade, ensinamos social skills para todos desde criança”. Simples assim. E foi justamente isso que vi nas escolas e universidades. Nas paredes, cartazes sobre fortalezas e áreas de melhoria como: coragem, resiliência, colaboração, proatividade, liderança, dentre outros. Na aula que participei de uma das melhores escolas do país, a Lauttassari School, vi na prática uma criança caindo no chão e os colegas ao invés de rirem ou fazerem bullying, a ajudaram a levantar e perguntaram se ela estava bem. Nas universidades, vi cartazes pendurados ensinando como construir frases mais empáticas. Nas ruas, vi pessoas dando a vez no ônibus, atravessando sempre na faixa, fazendo perguntas profundas e genuínas para conhecer as pessoas de forma verdadeira. Os comportamentos dos finlandeses são evidenciados na prática e são tão naturais que quando perguntamos para eles, parece que não existe nenhuma outra forma de ser, somente essa maneira focando no ser humano como protagonista das relações – focando no SER e não no PARECER ou no TER.
É muito interessante ver como as social skills (ou human skills como eu costumo chamar no meu livro “Líderes que Curam”) são intrínsecas a cultura. As pessoas aprendem desde pequenas sobre inteligência emocional, pensamento analítico (começam a ter aula sobre como identificar fake news desde os 5 anos de idade), estratégia, empatia e outras que fazem com que essas habilidades sejam normalizadas e parte do currículo e cotidiano de todos. Isso é SENSACIONAL, pois se criam adultos muito mais conscientes e que crescem com senso racional focado em tomar melhores decisões ao invés de ser influenciado pelas massas (temática de abertura do congresso de educação digital, por sinal).
Outro segredo por trás da felicidade finlandesa que vale destacar aqui é entender como construir uma sociedade centrada no “inner finn” – o eu interior que valoriza o equilíbrio, a conexão com a natureza e o bem-estar holístico (saúde, alimentação, bem-estar físico e mental). Compartilho aqui alguns dos principais insights dessa cultura:
1. A importância do bem-estar holístico:
Na Finlândia, a busca pela felicidade vai além do materialismo e do sucesso profissional. Os finlandeses valorizam o bem-estar holístico, que engloba aspectos físicos, emocionais e sociais da vida. Eles entendem que a felicidade não é um destino final, mas sim uma jornada contínua de autodescoberta, crescimento pessoal e desenvolvimento de social skills (human skills).
2. A conexão com a natureza:
A Finlândia é um país repleto de paisagens deslumbrantes e uma natureza exuberante. Os finlandeses têm uma relação profunda com o meio ambiente, valorizando a conexão com a natureza como uma fonte de tranquilidade, inspiração e recarga de energia. Essa ligação íntima com o mundo natural contribui para a sensação de bem-estar e equilíbrio emocional. É comum que os finlandeses passem tempo no campo, pois a grande maioria tem chalés para passar os fins de semana e as férias. No evento de educação que participei, de 5 palestras que assisti, 3 delas tiveram palestrantes que mencionaram a floresta e os benefícios de se conectar com a natureza em um mundo cada vez mais globalizado e repleto de estímulos.
3. Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal:
Diferentemente de muitas culturas que colocam grande ênfase no trabalho e na produtividade, a Finlândia adota uma abordagem equilibrada entre trabalho e vida pessoal. Os finlandeses valorizam o tempo livre, o descanso adequado e o tempo de qualidade com a família e os amigos. Essa abordagem resulta em uma maior satisfação geral com a vida e um menor nível de estresse. Quando perguntei sobre o lugar do trabalho na vida deles, a resposta que tive foi: “Em primeiro lugar vem a nossa vida pessoal, a nossa família e construção de bem-estar e a partir disso encaixamos o trabalho na vida”. Ou seja, eles praticam a engenharia reversa adaptando o trabalho a sua vida e não o contrário como por exemplo fazemos na nossa vida no Brasil.
4. Educação e igualdade social:
A Finlândia é conhecida mundialmente por seu sistema educacional exemplar e por promover a igualdade social. A educação de qualidade acessível a todos de forma gratuita, combinada com uma sociedade inclusiva e igualitária, contribui para o senso de propósito e bem-estar dos finlandeses. Todos têm acesso gratuito à educação em todos os níveis, a uma lista ampla de hobbies, atendimento psicológico e suporte pedagógico. A escola e a universidade colocam o aluno no centro (human centric) e dão muita liberdade para os professores escolherem as metodologias de ensino. Os salários são consideráveis e existem boas oportunidades para todos.
A Finlândia oferece valiosas lições sobre a busca da felicidade e a construção de uma sociedade centrada no “inner finn”. Ao adotar uma abordagem holística do bem-estar, valorizar a conexão com a natureza, equilibrar trabalho e vida pessoal, e promover a igualdade social, os finlandeses criaram um ambiente propício para a felicidade florescer. Essas lições podem ser aplicadas em diferentes contextos, inspirando-nos a repensar nossas prioridades para construir uma sociedade mais saudável e feliz. Vale comentar também que o sentimento de igualdade e justiça social fortalece os laços sociais e cria uma base sólida para a felicidade coletiva.
Portanto, convido você a refletir sobre como você pode investir no seu autoconhecimento, no desenvolvimento das suas human skills e a se conectar com o seu “inner finn” (nosso eu finlandês que preza pelo corpo, mente e espírito) e desta forma, cultivar um senso de equilíbrio, propósito e conexão com a natureza para trilhar um caminho para uma vida mais feliz e significativa.
Então a pergunta que fica é: aprender human skills ou aprender sobre felicidade? Bom, não existe resposta certa, mas existem SIM vários caminhos. Apenas comece com o que te parece mais agradável e explore as infinitas possibilidades.
Antonella Satyro é CEO & Founder do Human Skills Manifesto, TEDx & Keynote Speaker, Autora do livro na lista dos mais vendidos “Líderes que Curam”, Linkedin Top Voice, Angel Investor & Board Member, Mentora de Líderes & CEOs e Advisor de Inovação & Future Skills.